Avaliando todos

Nossas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI) determinam, desde 2009, que as instituições que atuam nessa etapa de ensino criem procedimentos para a avaliação do desenvolvimento das crianças. Esse processo não deve ter como objetivo a seleção, a promoção ou a classificação das crianças e precisa considerar a observação crítica e criativa das atividades, das brincadeiras e interações das crianças no cotidiano e empregar múltiplos registros. Tais apontamentos, no entanto, ainda geram dúvidas e interpretações equivocadas. Há um desafio importante e atual, o abandono de práticas descontextualizadas que ignoram a individualidade das crianças e a procura de abordagens que captem a unicidade e a autenticidade de cada uma delas, considerando o desenvolvimento dentro dos contextos e das rotinas .A utilização de instrumentos pontuais leva à rotulação e ao estigma dos alunos , quando o foco precisa estar em como eles agem durante as práticas e interações possibilitadas na escola. 

Os riscos de avaliar mal não param por aí. Ao dizer que uma criança não se comporta como deveria, pode-se deixar de ver os avanços que ela já alcançou. Ao pensar, por exemplo, que ela está adquirindo a habilidade de se equilibrar apenas se for bem em um teste realizado com cordas, pode-se ignorar o fato de que ela consegue subir e descer do trepa-trepa sem nenhum problema. Além disso, instrumentos classificatórios favorecem que o professor direcione seus esforços, buscando que a turma seja treinada para obter sucesso em uma ação específica, o que é um grave problema. O projeto político-pedagógico (PPP) da instituição de Educação Infantil deve ser pensado de maneira a promover situações que desafiem o que cada menina ou menino já sabe, possibilitar que eles se apropriem de diferentes linguagens e saberes, assegurar que manifestem seus interesses, desejos e curiosidades e valorizar as produções individuais e coletivas. Para se chegar a isso, é necessário que o processo educativo contemple a avaliação e, por meio dela, a constante reflexão sobre os resultados alcançados. É possível conversar com as crianças, perguntar sobre determinadas atividades, saber o que eles mais gostaram e pedir a ajuda deles no momento de organizar o portfólio de produções. Além de permitir que eles expressem algumas opiniões sobre suas experiências, essa situação dá pistas sobre como eles veem suas aprendizagens. 

As premissas que integram o PPP também devem refletir na definição dos procedimentos que norteiam a avaliação. Uma vez que a instituição entende que a avaliação faz parte do processo educativo, cabe ao coordenador fazer com que as diretrizes sejam apropriadas pelos docentes. Esse é o primeiro ponto que um plano de formação sobre o tema tem de contemplar. Com essa sensibilização realizada, deve-se iniciar a reflexão sobre o que se pretende observar e que critérios levar em conta. Boa parte da discussão se baseia no currículo da instituição. A reflexão constante também implica não aceitar o trabalho como encerrado. Considerar questões como "Que problemas a turma apresentou com as estratégias que eu sugeri?" e "O que aprendi com essa experiência?" ajudam na solução de problemas. Nesse momento, o gestor pode trazer um olhar de fora da situação, fazendo perguntas que levem a uma análise crítica. 

Como se vê, a formação não termina quando a ação é iniciada. Pelo contrário, ela fornece elementos para que o gestor atue no sentido de aperfeiçoar as práticas e o próprio processo avaliativo. Quando os registros são compartilhados com a coordenação, ela pode identificar elementos da atuação docente que precisam de intervenções e que se transformam em novos objetos de estudo .A observação e o registro permitem a avaliação contínua e processual. Por meio deles, docentes e coordenadores pedagógicos acompanham o que está sendo construído no dia a dia das turmas.Com a observação, o educador tem a oportunidade de conhecer cada um, as reações, os hábitos alimentares, as brincadeiras preferidas e vários outros detalhes. Por isso, ela é uma grande aliada na avaliação dos bebês por exemplo, e colabora para que se compreenda a forma como se expressam mesmo antes de falar convencionalmente. 
Por meio do relato construído pelo professor com a orientação do coordenador, o percurso de aprendizagem das crianças  pode e deve ser compartilhado com os demais educadores e com as famílias. Isso é fundamental, por exemplo, para garantir que um professor, ao assumir uma turma, conheça o que se passou com cada um dos alunos  no ano anterior. Os pais também devem ter acesso ao relatório. Ali, eles conseguem visualizar o caminho trilhado pelo filho e os avanços que ele vem obtendo. Além disso, esse material colabora para prestar contas sobre o que foi realizado. em minha escola mantemos um diálogo entre professores de como era tal aluno e como está agora e este crescimento vai no parecer de forma carinhosa e aconchegante sem rotular o aluno .

Comentários

  1. A postagem está com um tema abrangente sobre educação infantil. E ao trazer os documentos e leituras você enriqueceu a sua publicação. Abordou temas polêmicos como avaliação e a questão do PPP. Além de colocar a questão da relação aluno x professor x coordenador. Parabéns!

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